O mundo dos Jetsons (o desenho animado dos anos 60 que se passava no futuro, tinha robôs, carros voadores e comida feita instantaneamente) está chegando, diz o diretor-geral da Intel Brasil, Mauricio Ruiz.
A Intel, conhecida pelos chips que equipam computadores pelo mundo, investe e pesquisa em muitas outras áreas, como inteligência artificial, robótica e realidade virtual.
Ruiz diz que o 5G vai permitir conexão de todos os aparelhos numa velocidade 10 vezes maior e mudar a forma com que trabalhamos até 2020. O carro do futuro vai ser um data center sobre rodas e deve estar rodando em maior escala nas ruas em três anos já. A realidade virtual vai ser substituída pela realidade combinada, que mistura a virtual com a real.
Leia abaixo as principais visões dele sobre esse admirável mundo novo.
Tudo vai ser tecnologia, e não serão necessários aparelhos especiais
Hoje tecnologia ainda é algo que você pega um dispositivo para fazer algo, um dispositivo específico. Tem que pegar um smartphone, não é algo que está presente aqui para mim e eu interajo normalmente para fazer a minha parte digital. Com esses mundos se juntando, isso vai fazer parte do seu dia a dia, você vai falar, vai interagir, não vai ter que carregar algo. Você começa a ver hoje nas casas, nos EUA já tem bastante: Amazon, sistemas para interagir com voz dentro da sua casa.
Então, para nós, o mundo dos Jetsons está chegando, está muito próximo de chegar. É por aí que a gente vê a tecnologia indo. E nos negócios tem um impacto gigantesco. As cadeias produtivas que você tem hoje vão ser questionadas. Será que você precisa mesmo daquela cadeia? Porque o modelo mudou completamente.
Implantes cibernéticos no nosso corpo?
Há estudos disso [implantar equipamentos no corpo], a gente tem uma área só de PHDs, que olham a parte de biologia, como é que a gente integra essas duas coisas. Obviamente que a gente tem o lado de olhar e pensar: 'vou inserir algo no meu corpo?'. Hoje já existe um capacete no qual você mede as ondas cerebrais do funcionário numa construção, para saber se ele está cansado ou não, se está tendo lapsos porque não dormiu direito, e você pode monitorar isso na sua obra e evitar acidentes. Isso é realidade hoje, e não precisa nem enfiar nada dentro dele.
Se a gente vai colocar algo dentro do corpo, se vai ser periférico ou não, acho que isso vai ser definido à medida que a tecnologia evoluir. Agora, o desejo de ter a tecnologia ajudando na detecção de doença no ser humano, isso sem dúvida, é área de pesquisa de todo mundo. Algo vai acontecer, interno ou externo. Vamos ver daqui para a frente.
Realidade combinada mistura seu corpo com o virtual
Muito mais do que realidade virtual, a gente já fala de realidade combinada, que é ver esse mundo 3D, mas não perder o que acontece no mundo físico. Por exemplo, coloco meus óculos de realidade virtual, mas vejo minha mão também. Minha mão faz parte daquele plano. Se eu olhar essa mesinha aqui, essa mesinha faz parte do meu game, ela não some, não fica uma coisa totalmente virtual, fora do meu mundo real. Imagine em medicina: um médico faz uma cirurgia num lugar e tem apoio de outro especialista, que pode estar em outro país. Os dois estão olhando a mesma coisa. Um pode até apontar onde ele está vendo algo que não é normal. Pense nessa mudança para o dia a dia.
Já está acontecendo. É maravilhoso. Tem uma empresa cliente nossa nos EUA, que tem uns óculos para setor industrial com câmeras 3D e sensor de calor. Num local com encanamento, parte quente, parte fria, você já consegue ver no mundo virtual o que está acontecendo em cada um dos canos. É uma coisa impressionante.
Carro do futuro vai ser um data center sobre rodas
A sensação de você entrar num automóvel e ele sair dirigindo sozinho vai ser uma experiência bem interessante. E outro ponto que é muito forte é a inteligência artificial. Existe há muito tempo, mas com maturidade hoje da tecnologia, processadores, barateamento de custo, potência, isso tornou a inteligência artificial algo real, que a gente vê no dia a dia. O carro autônomo é um exemplo que junta realidade combinada e inteligência artificial: tem sensores, capacidade de processamento, softwares de inteligência artificial, ele se comunica com a nuvem (processamento remoto pela internet), ele recebe informações, interage com o ambiente.
Ou seja, o carro do futuro vai ser um data center sobre rodas. É algo para daqui a três anos, no máximo, você começar a ver na rua rodando. Óbvio que vai precisar de infraestrutura.
5G vai dispensar grandes torres
Não é mais uma questão de ter uma rede melhor para o meu smartphone, é ter uma rede que permita criar uma cidade digital, ter um carro autônomo na rua. Isso é um plano de Estado, e a gente vem avançando nessas conversas com os ministérios, principalmente de Ciência e Tecnologia, com a indústria, para que o Brasil esteja bem preparado.
Uma pergunta que sempre me fazem é sobre o custo, porque tudo custa muito. Mas o 5G muda a forma como se entrega a tecnologia. Em vez de ter essas torres, vai passar para um modelo de servidores (grande computadores em rede). Não precisa criar um equipamento específico para transmissão de dados, é um servidor normal. A tendência é que em 5G o custo da infraestrutura seja menor. E a gestão é infinitamente melhor.
Um exemplo: na avenida Faria Lima (área comercial de São Paulo), no horário do rush, há um pico de consumo absurdo de celular. Mas à noite não tem mais, as pessoas não moram na Faria Lima. Hoje a empresa de telefonia tem que montar estrutura para essa região, independente do horário. Em 5G, isso muda: ela pode fazer realocação de recursos baseada no consumo de determinadas áreas. É uma revolução muito grande.
Isso deve começar entre 2018 e 2020. Já há vários pilotos. A Intel mesmo tem equipamentos. Nosso modem vem no final do ano aqui para começar a testar. O padrão ainda não foi definido. Então todo mundo começa a fazer testes para pegar as melhores práticas, os melhores resultados, para incorporar isso ao padrão. Está em andamento.
O 5G vai permitir 50, 100 vezes mais dispositivos por célula do que existe hoje. Uma velocidade de transmissão 10 vezes maior do que há hoje no pico. Vai mudar a forma como a gente trabalha.
Um computator que é do tamanho de um cartão
Uma das coisas que o usuário de computador sente é espessura, leveza. Acabamos de lançar um produto que é um computador no formato de um cartão. Para que é isso? Imagina que você tem a sua TV e que precisa fazer algum tipo de processamento. Você pode pegar esse cartão e enfiar ali, seu computador está na TV. Eu quero tirá-lo dali e levá-lo para minha casa, onde tenho uma outra base. Você tira ele dali e vai para a sua casa. Ele cabe no seu bolso. A unidade de processamento e inteligência está ali. Agora precisa habilitar a indústria para fazer com que o formato pegue. Ele vai dentro, mas você precisa de uma interface, ele tem de se conectar. A indústria precisa fazer esses dispositivos onde ele encaixe.