O fundador da Bio Ritmo e da Smar Fit, Edgard Corona, diz que o brasileiro muitas vezes não faz atividade por falta de tempo: trabalha muito e não tem um sistema bom de transporte público para se locomover pela cidade. Também mostra que treinar demais atrapalha o condicionamento físico, conta que a Smart Fit nasceu de uma conversa com funcionárias de um café na Bio Ritmo e revela como são criados os novos treinos da academia que fazem o corpo perder calorias mesmo se estiver parado. Leia a seguir:
Nós temos uma dificuldade no Brasil, que é o tempo para se cuidar. Um dia eu estava numa loja na Nova Zelândia, comprando um item qualquer, e a vendedora virou me falou: "Estamos fechando, o senhor volta amanhã". Eram 17h, eu estava para passar no caixa e não teve conversa, ela meteu a chave, pegou um transporte público de qualidade e foi para a academia.
Não é o que acontece no nosso Brasil. É sufoco, apertado no metrô, é a carga de trabalho, as distâncias, os tempos de deslocamento são muito grandes.
Nós temos um nível de dificuldade muito maior para o sujeito ter esse momento para cuidar de si próprio. Tem que ter mais sacrifício nesses grandes centros urbanos desorganizados, caóticos que nos temos aqui
Isso posto, eu acho que a grande dica é que nós erramos, porque também a entrega era inconsistente, a gente prometia e não entregava. E quando promete e não entrega, se o sujeito não tem o resultado, ele conclui que não está funcionando. Essa mudança, olhando para o foco da entrega, tentando entender o que faz a diferença, nos permite trazer mais gente para dentro.
A média que nosso aluno vai à academia é de oito vezes por mês, duas vezes por semana. A gente acha que para a Smart é bastante significativo, dada a dificuldade de transporte. É acima da média mundial (1,3 vez por semana). Com isso, pelo menos as pessoas melhoram a qualidade de vida.
Cerca de 15% a 17% dos clientes ficam de 45 a 60 dias sem aparecer
Mas aí tem férias no meio, ou o sujeito naquele mês se atrapalhou, está fazendo um curso ou está na faculdade, na prova. Só uns 3%, 4% ficam um tempo longo pagando mensalidade sem ir, esquecendo de cancelar. O resto cancela mesmo.
Tem sempre a turma do overtraining. Fazem musculação todo dia, e o efeito não vem, o músculo não cresce. Eles treinam demais e o resultado acaba não vindo porque não seguem a recomendação
O professor explica que precisa dar um tempo de o músculo se restabelecer. Mas é um momento da vida, todo cara que começa, no primeiro mês, quer tirar o atraso, tem cara que vem todo dia e não precisaria vir. Depois acaba entrando na rotina normal.
Smart Fit começou com ideia de vendedoras de uma cafeteria
Quando a gente começou a Smart Fit, o desenho saiu de um café na porta da Bio Ritmo com duas senhoras, que trabalhavam lá e me perguntaram quando eu ia montar uma Bio Ritmo perto da casa delas. Falei que não sabia, perguntei se achavam que teria público? E elas disseram que sim. Perguntei quanto achavam que podia custar isso. Disseram que conseguiam pagar uns R$ 80.
Quando lançamos a Smart, a mensalidade era de R$ 49 a R$ 69. Aquilo ficou na minha cabeça.
O propósito foi democratizar o fitness de alto padrão. Era para trazer a pessoa que está na comunidade e o sujeito que está no Leblon, para frequentarem o mesmo espaço porque aquilo é uma experiência
A gente inicialmente usou musculação e cárdio porque 70% do pessoal vinha por conta disso. Nas academias em geral, cada professor dava um tipo de treino diferente, o que não demonstrava uma consistência no método pedagógico, o aluno não se sentia muito assistido. Com o modelo Smart, mais focado, a um preço de R$ 49 a R$ 69 você passa a atender 70% do mercado que procurava aquilo.
E tirando um zero do preço. Com a mesma máquina, a mesma sofisticação, o mesmo vestiário.
Treino funcional para acelerar o metabolismo
Na sequência, pensamos o que mais poderia agregar na história. Esse treino funcional que a gente desenvolveu começa sendo criado no escritório. Os especialistas pensam em treinos com o máximo de intensidade, movimento simples, mas com as cargas adequadas para dar segurança. Ou seja, não posso dar um exercício em que o sujeito passe mal. Mas tenho que dar um exercício em que ele acelere o metabolismo. Então a turma que entende disso monta as estruturas de carga.
Uma acelerada de bicicleta, depois tem um exercício mais leve, um mais pesado, um mais leve, tem lá uma oscilação para isso. A gente colocou isso num vídeo e esse vídeo está nas telas das unidades, acompanhado por um professor. Cada turma tem na sua tela o que vai executar.
E a gente usa o instrutor que está na sala só para corrigir. Isso é transmitido para a rede inteira. A criação ficou muito mais simples e a entrega muito mais efetiva porque quem desenvolveu isso é especialista nessa história, e o professor que está lá é especialista em corrigir postura, em dar o incentivo para que o cara atinja um limitezinho a mais do que se ele estivesse sozinho. A gente passou a agregar isso na Smart Fit há um ano.
A gente colocou uma sala de aula que, na verdade, é um estúdio de dança, é uma grande discoteca, uma grande balada. Tem iluminação, som legal, dança. Você perde peso e faz exercício dançando como se estivesse em uma balada. E isso trouxe um outro público que a gente não estava atingindo
Você tinha uma academia com uma decoração padrão, chamava um grande arquiteto, esse cara dava uma linguagem una para a academia como um todo e essa linguagem dava a mesma experiência.
O consumidor quer viver fantasias, experiências diferentes
Então pensei: em vez de ter uma decoração una, vamos criar cinco espaços diferentes, com cinco entregas diferentes, todas elas dando objetivo de acelerar metabolismo, de dar o resultado que o cliente busca, mas em cenografias diferentes.
Temos um race bootcamp, que é uma aula de esteira com funcional, a sala é vermelha, a temperatura é mais quente, o professor está paramentado como se fosse um militar e ele acaba incorporando, todos eles acabam virando uns bons sargentos.
Em outra sala, há aula de ioga, e você quer estar dentro da Índia para aquelas experiências sensoriais. Então temos pequenas academias diferentes integradas num espaço. Segunda-feira é membro superior, terça-feira é membro inferior, de forma que o cliente possa migrar entre as diversas opções, o que reduz aquela coisa de ficar meio chato. Você muda sempre o estímulo, a frequência, a diversão e isso está dando resultado.
Agendamento de aula reduz desistência na academia
E temos agendamento pela internet. Deu certo no cinema. Reserva seu lugar no sábado à noite e não fica na fila e não perde o filme. Conosco não é diferente. Vou acordar às seis da manhã para chegar lá e não ter o meu lugar na aula? Não vou. Aí a aula esvazia porque o sujeito fica na dúvida e não vai. Pusemos o sistema de reserva e isso começou a aumentar a demanda, pusemos mais aula e tem mais gente vindo. E aí as pessoas desistem menos da academia.
A gente começou a pensar em 2014 e implantamos em 2016 em uma boa parte delas. Criamos um projeto novo, que é o Morumbi Town, que incorpora todas essas inovações, e agora a gente está fazendo um retrofit das unidades. Até o final do ano toda a rede vai ter de quatro a cinco desses cinco produtos.