Meu malvado favorito

Sergio Ramos chega à Copa como vilão da atualidade no futebol, entre polêmicas e a chance de fazer história

Bruno Freitas e Bruno Grossi Do UOL, em São Paulo
Arte UOL

Com Sergio Ramos é assim: amor ou ódio. Isso credencia o espanhol para ser um dos maiores personagens da Copa. Há quem deseje todo mal e azar ao zagueiro durante o Mundial, justificando a ira pelo acúmulo de episódios de comportamento discutível. Cusparadas, expulsões, carrinhos perigosos, cotoveladas fora do lance e, principalmente, pelo susto de quase verem Mohamed Salah desfalcar o Egito.

Capitão do Real Madrid e, agora, da seleção espanhola, Ramos rebate quem o provoca ou acusa com a mesma firmeza mostrada em campo. A ironia e o sarcasmo são suas armas favoritas nas entrevistas, que quase sempre incluem uma exaltação dos próprios feitos. Assim, quem já tem razões para detestá-lo conclui que o sentimento está mais do que justificado.

Quem ama o zagueiro aproveita para assisti-lo fazendo história. Afinal, Ramos tem mais de uma década de Real, sempre em alto nível, e como bandeira dos quatro títulos de Liga dos Campeões nos últimos cinco anos.

E, entre os espanhóis fãs da Fúria, até quem já torceu o nariz por alguma das loucuras de Sergio Ramos sabe que torcer para o inimigo favorito pode significar ver a seleção mais uma vez campeã do mundo. De novo com o zagueiro em campo.

"Golpes" em Salah e Karius resgataram imagem de vilão

GENYA SAVILOV/AFP GENYA SAVILOV/AFP

Zagueiro preferiu ir ao ataque após acusações na Liga

É normal ver jogadores de futebol evitarem polêmicas. Ou apostam em respostas evasivas ou nem sequer comentam os casos mais delicados. Sergio Ramos não partilha dessa postura. O zagueiro responde tudo e não quer apenas se defender. Ele gosta de sair para o ataque. 

Ramos sugeriu que Salah poderia ter seguido atuando na final da Liga dos Campeões se tomasse infiltração no ombro machucado, sugerindo falta de vontade do egípcio. Depois, quando um hospital apontou que o goleiro Karius sofreu uma concussão após uma cotovelada sua, o zagueiro decidiu atingir outro jogador do Liverpool: "Daqui a pouco vão dizer que Firmino estava gripado porque derrubei suor nele".

O brasileiro retrucou o chamando de "idiota", mas viu Ramos apelar para a tréplica ao dizer que quem tenta criticá-lo pelos acontecimentos da final da Champions quer apenas "ser popular".

Conheço o Sergio Ramos há 12 anos. Tinham que valorizar os três títulos que o Real conseguiu, por mérito próprio. Valorizam mais a trombada no goleiro do que os três gols que fizemos. E dizem que foi culpa dele. Coitado do goleiro, assumiu a derrota do time

Marcelo

Marcelo, lateral da seleção brasileira e do Real Madrid

Pavel Golovkin/AP Pavel Golovkin/AP

Russo disse ter tirado lições com Ramos para enfrentar Salah na Copa

Apesar de condenada por muita gente, a falta de Sergio Ramos em Salah serviu de inspiração para alguns. Um exemplo é o zagueiro russo Ilya Kutepov, que se mostrou ansioso para enfrentar o jogador no Liverpool durante a Copa do Mundo. A Rússia encara o Egito no dia 19, pelo Grupo A.

"Se Salah me preocupa? Não. Sergio Ramos mostrou uma maneira de pará-lo", zombou o defensor, que seguiu com seu declaratório:

"Não direi que me entristeceu ver Salah se lesionar na final, mas eu desejo a ele uma recuperação rápida. Estarei feliz se ele jogar o Mundial. Quando você joga contra um gênio assim, você cresce".

Em defesa

Sergio Ramos não tinha o objetivo de machucar Salah. Tanto é que o árbitro nem sequer marcou falta. Não vi uma atitude antidesportiva na ação. Ramos não é um jogador agressivo. Tenho orgulho por ele ser o capitão do Real

Toni Kroos

Toni Kroos, volante da seleção alemã e jogador do Real Madrid

São jogadores disputando e sinceramente não acredito na má intenção de ninguém. Vi a jogada, foi uma das muitas que há no futebol e podem acontecer. Já me tiraram três dentes, o que vou dizer? Acontece

Diego Godín

Diego Godín, Zagueiro da seleção uruguaia e jogador do Atlético de Madri

Manu Fernandez/AP Manu Fernandez/AP

Imprensa espanhola aponta participação de Sergio Ramos em saída de técnico da seleção

Dois dias antes do início da Copa, o Real Madrid anunciou Julen Lopetegui como seu novo treinador, substituindo a Zinedine Zidane. O técnico já estava na Rússia comandando a seleção espanhola, em trabalho que começou em 2016 e duraria somente mais algumas horas. A federação do país se revoltou com a postura do profissional e do clube, decidindo pela demissão.

Segundo alguns veículos da imprensa espanhola, Sergio Ramos esteve ativo em todo o processo. Primeiro, como capitão, incentivando o Real a procurar Lopetegui. Depois, com a crise pelo desfecho das negociações às vésperas da Copa já instaurada, defendendo a permanência do treinador. A posição causou mal-estar entre dirigentes e jogadores da seleção, de acordo com o jornal "El País".

Em entrevista coletiva em Sochi, antes da estreia contra Portugal, Ramos comentou o caso: "Obviamente, por ser capitão, sei mais do que o normal. Posso opinar, mas a decisão é dos outros. Não podemos nos agarrar nisso. E não há nenhum problema de vestiário. Existem opiniões diferentes, mas uma ideia coletiva de ganhar a Copa". 

Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Espanha trocou líderes diplomáticos pelos explosivos Piqué e Ramos

A rivalidade entre jogadores do Real Madrid e do Barcelona sempre existiu. Havia receio até, entre as conquistas da Eurocopa de 2008 e da Copa do Mundo de 2010, de que isso pudesse levar a Fúria mais uma vez ao fracasso, apesar do bom futebol praticado. E se a crise foi administrada na época, isso passa pela sobriedade apresentada por dois dos líderes: Iker Casillas e Xavi Hernández.

O goleiro do Real e o meio-campista do Barça eram vistos como figuras mais diplomáticas, preocupadas em apaziguar possíveis conflitos internos e de passar ao público uma imagem mais polida da seleção espanhola. Com o fim da carreira da dupla na Fúria, novos líderes ascenderam, com perfis completamente distintos e evidenciando a rivalidade entre madridistas e catalães.

Sergio Ramos e Piqué são duros em campo e mais ainda fora dele. Os zagueiros não fogem de temas delicados, expõem opiniões polêmicas em redes sociais e entrevistas e são odiados pelas torcidas adversárias. O ambiente na seleção se tornou mais inflamável e precisou de uma reformulação desde a Copa de 2014, no Brasil. Julen Lopetegui parecia ter conseguido contornar tudo isso até cair.

Parceiro de seleção, Aspas já foi alvo até de cusparada

Outras vítimas do "fogo amigo" de Sergio Ramos

  • Diego Costa

    Em 2012, em clássico entre Atlético de Madri e Real, Diego Costa e Sergio Ramos trocaram empurrões e cusparadas, em confronto ainda com ameaça de mordida. Depois Ramos ligou para Diego quando o atacante foi naturalizado espanhol e deu boas-vindas à seleção

    Imagem: Juan Manuel Serrano Arce/Getty Images
  • Carles Puyol

    Em 2010, o Barcelona goleava o Real por 5 a 0 quando Sergio Ramos teve um ataque de fúria: deu pontapé por trás em Messi, foi expulso, deu tapa no rosto do ex-zagueiro Puyol e, na saída de campo, enfiou o dedo no rosto de Xavi. Até companheiros de time tentaram acalmar Ramos

    Imagem: AFP

Era Mourinho levou "sangue quente" e expulsões a clássico

Rusgas com o Barça passam por questões políticas da Catalunha

A parceria com Piqué na seleção, apesar de tensa, nunca teve nenhum problema que se tornou público. Os dois, inclusive, chegaram a dar entrevista coletiva juntos para reforçar a imagem de paz na dupla. Mas isso não significa que eles tenham discursos alinhados em todos os assuntos. 

Enquanto Piqué é vaiado por espanhóis de outras regiões por bradar pela independência da Catalunha, Sergio Ramos costuma ironizar a luta do estado. O zagueiro do Real chegou a dizer que fica mais preocupado com o fato de não ter letra no hino da Espanha do que com a revolta do movimento catalão.

REUTERS/Hannah McKay REUTERS/Hannah McKay

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