Quem corre é a bola?

Espanha x Rússia marca o duelo de estilos diferentes. A paciência espanhola encara a imposição física russa

José Edgar de Matos Do UOL, em São Paulo (SP)
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Duelo de opostos

De um lado, a equipe que mais correu na primeira fase entre os classificados ao mata-mata da Copa do Mundo. Do outro, quem mais trocou passes. Acima de qualquer individualidade ou atrativo por envolver uma grande seleção e o país-sede, o confronto entre Espanha x Rússia deste domingo, às 11h (de Brasília), no Estádio Luzhniki, coloca frente a frente dois estilos diferentes de entender e praticar futebol; pelo menos foi o apresentado nos três primeiros jogos.

A Espanha se notabilizou há uma década por valorizar essencialmente a posse de bola para atacar e ao mesmo tempo neutralizar o adversário. Mesmo sob o comando de um interino Hierro, alçado ao posto de treinador às vésperas da estreia no Mundial com a demissão de Julen Lopetegui, a seleção campeã mundial em 2010 se sustentou neste estilo para avançar de fase. Foram 2.089 passes completados e a liderança no quesito.

Em contrapartida, a Rússia impressionou – nos dois primeiros jogos – pela imposição física sobre os adversários. A equipe da casa correu em média 110,3 km por partida, número que poderia ser ainda maior se o time não atuasse com 10 homens durante 54min na derrota para o Uruguai, desvantagem imposta com a expulsão de Smolnikov ainda na primeira etapa.

As posturas distintas de filosofia de jogo colocam à prova um dos jargões mais presentes nas “resenhas” e peladas. Afinal, em um Mundial no qual a questão física tem feito a diferença, com uma desacreditada Rússia surpreendendo e avançando de fase com este estilo, quem ainda corre mesmo no futebol é a bola? A Espanha está aí para tentar provar que sim.

Chave do jogo

Xinhua/Ye Pingfan Xinhua/Ye Pingfan

Entressafra

Hierro possui uma gama de talentos à disposição e um estilo definido de jogo há anos, fruto do trabalho dos antecessores. Contudo, assim como em 2014, a Espanha sofre com a entressafra de jogadores. Por pouco, a geração de Andrés Iniesta, Gerard Piqué, Sergio Busquets e Sergio Ramos não para na fase de grupos, repetindo o vexame de quatro anos atrás. O protagonismo hoje é de Isco, decisivo no empate por 2 a 2 com o Marrocos. Diego Costa, que sofreu com o estilo de jogo espanhol no Brasil, se mostra letal e já soma três gols na Rússia. A dupla, aliás, tem grande responsabilidade na classificação.

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Qual Rússia veremos?

Torcedores estrangeiros começaram a desembarcar no país na semana da abertura do torneio e trouxeram o clima de Copa para uma população que parecia alheia ao grande evento. Entretanto, bastou o primeiro jogo para o Mundial "pegar" no país. A goleada sobre a Arábia Saudita e posterior vitória com autoridade sobre o Egito transformaram o ambiente entre os locais. A empolgação veio, a festa cresceu, mas bastou o choque de realidade contra o Uruguai para os questionamentos voltarem. Nas oitavas, qual Rússia veremos? A candidata a zebra ou a que acumulou resultados ruins na preparação?

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Inimigo íntimo

Ninguém deve conhecer mais o elenco de Hierro do que Denis Cheryshev. Formado no Real Madrid, o meia atuou somente por clubes espanhóis durante a carreira. Pelo gigante da capital, a fama ficou pela escalação irregular na Copa do Rei de 2016, que resultou na eliminação madridista. Atualmente, o camisa 6 da seleção russa defende o Villarreal.

Personagens do jogo

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De Gea

A campanha instável da Espanha gerou questionamentos até em nomes consolidados no cenário europeu. Considerado um dos melhores goleiros do mundo, De Gea falhou diante de Portugal e fez a primeira defesa no torneio somente na terceira rodada, diante do Marrocos. O mata-mata surge como a chance para o jogador do Manchester United, herdeiro do campeão mundial Iker Casillas, se provar na competição mais nobre do futebol mundial.

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Golovin

Jogador mais jovem do elenco russo, Golovin não sentiu a pressão por atuar em casa. Pelo contrário. O meia de 22 anos atuou nas duas primeiras rodadas como titular e se apresentou como peça fundamental em uma Rússia que impressionou diante de sauditas e egípcios. Em 180 minutos de futebol, o jogador que começou no futsal local somou um gol e duas assistências, números que despertam a atenção antes do mata-mata.

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Sob desconfiança

O primeiro mata-mata serve como teste também para os dois comandantes. Stanislav Cherchesov acumulou resultados ruins e tinha o trabalho extremamente questionado antes da Copa, mas ganhou apoio depois de cumprir com o objetivo mínimo de classificar a seleção local para o mata-mata. Já Hierro, que desembarcou na Copa como membro da direção, assumiu o cargo de treinador depois da caótica saída de Julen Lopetegui a dois dias da estreia espanhola no torneio. 

Frases do jogo

Se não for a melhor seleção do mundo, a Espanha está muito próxima disso

Denis Cheryshev

Denis Cheryshev, Meia da seleção russa

Será muito difícil jogar contra a Rússia, parecido se jogássemos contra o Brasil

David Silva

David Silva, Meia da seleção espanhola

Blogueiros opinam

Apesar de ter mostrado bom futebol nas duas primeiras rodadas da Copa, a Rússia está fazendo hora extra no Mundial e só não se despedirá da competição nas oitavas se a Espanha repetir a atuação medíocre que teve contra Marrocos.

Rafael Reis

Rafael Reis

Os russos devem usar o apoio da torcida para um jogo forte de retranca "handebol" (talvez com linha de cinco atrás), contragolpe e bola parada para superar a seleção mais técnica da Copa. A Espanha empurra o adversário para o próprio campo, mas sofre com a lentidão de Pique, Sergio Ramos e Busquets na defesa muito exposta.

André Rocha

André Rocha

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