“O Alcoólicos Anônimos é uma comunidade que reúne as mulheres e os homens que compartilham um com o outro a sua experiência, a sua força e a sua esperança com o objetivo de se ajudar e ajudar aos outros a se livrarem do alcoolismo”. A frase entoada pela voz grossa do homem de meia idade com bigode anuncia exatamente às 18h de uma sexta-feira que o encontro começou na pequena cidade Elektrostal, região metropolitana de Moscou.
Nas mesas de madeira que circundam uma pequena sala, 14 pessoas se unem para dar risadas e falar do mal de suas vidas. Em sua maioria mulheres entre seus vinte e poucos anos até a meia idade. Sob as mesas com toalhas verdes quadriculadas, cinco potes com biscoitos de água e sal são acompanhados por xícaras de chás.
O homem com a voz grossa é bravo e interrompe o burburinho e pede um minuto de silêncio para lembrar das pessoas que morreram "dessa doença horrível e incurável". Em seguida, convida a todos para se libertarem dos antigos pensamentos e a perderem o medo. Lembram que "o álcool é esperto, forte e que te desvia do caminho".
Ali eles precisam admitir perante os outros e principalmente a si mesmos. “Eu sou alcoólatra”, entoa cada um em alto e bom som, ainda que estejam limpos há 20 anos. Cada integrante lê um dos 12 passos do AA que também está impresso no cartaz da parede ao lado de vários outros quadros de motivação. Os dois primeiros soam quase como um mantra paradoxal:
Nós aceitamos que nós somos fracos com álcool e perdemos o autocontrole. Aceitamos que apenas a força, a vontade e o poder pessoal podem trazer de volta o bom senso”
E nesse eterno duelo entre fraqueza x força, o que une todos ali é o pertencimento. À vontade para dividir necessidades e pecados sem julgamentos. Um homem, do alto de seus 40 anos, pede ajuda para pernoitar em São Petersburgo. Não se importa de dormir na casa de um alcoólatra. Outra pessoa, uma mulher, quer se livrar da tentação da bebida.
“Eu fiquei sóbria durante muitos anos, mas comecei a falhar. Uma amiga sempre quer beber comigo. E chegou ao ponto em que disse: ‘se você não beber dessa vez, não vamos continuar amigas’. Ela falou que não ia me levar mais para o círculo dE amigos dela. Eu fiquei preocupada. É claro que eu sei dar desculpas para não ir. Por exemplo, digo que tomo antibióticos. Eu não gostaria de falar diretamente que não bebo há muitos anos. Me parece que eu já vou passar limite, embora eu não tenha bebido nos últimos 15 anos. Mas eu tenho medo agora porque às vezes sinto que eu tenho que beber com as minhas amigas. É um sentimento que me perturba e parece que estou doente”.
Ela sente o conforto que precisava e logo cai na gargalhada.