Desbravando o sertão

Honda XRE 300 encara 2.000 km para acompanhar o Rally dos Sertões 2016

Arthur Caldeira Da Infomoto, especial para o UOL
Idário Araújo/Vipcomm

Desafio de resistência

Acompanhar a caravana do Rali dos Sertões 2016 entre Goiânia (GO) e Palmas (TO), encarando rodovias, trechos de terra e o temido deserto do Jalapão foi a missão de Infomoto. Escolhemos a nova Honda XRE 300 para cumprir este teste de resistência.

Entre 3 e 10 de setembro percorremos mais de 2 mil quilômetros ao guidão da moto de uso misto (asfalto e terra), ano/modelo 2016.

A aventura consistiu em acompanhar a 24º edição do maior rali realizado em solo brasileiro, passando pelas mesmas cidades da prova. Obviamente, não fizemos o percurso exato da competição, até porque as motos que usamos não receberam qualquer tipo de modificação.

Nada aliviou nossa missão, porém: estávamos, eu e mais três jornalistas, revezando duas XRE 300 e uma XRE 190 com mecânica original de fábrica -- com o mesmo equipamento que qualquer comprador recebe em uma loja. Será que a moto aguentou o tranco? Acompanhe a viagem e descubra.

Sobre o rali

Gustavo Epifanio/Vipcomm Gustavo Epifanio/Vipcomm

A prova

A edição 2016 do Rali dos Sertões teve 146 veículos em quatro categorias: motos, quadriciclos, UTVs e carros. A caravana largou de Goiânia (GO) em 3 de setembro e, após percorrer 3.143 km passando por três Estados, chegou a Palmas (TO) em 10 de setembro. 74% do percurso foi de trechos cronometrados, ou seja, valendo para a classificação geral. Nas motos, Gregorio Caselani (Honda) foi o vencedor. Edgley Sobrinho (Yamaha) faturou nos quadriciclos. Cristian Baumgart e Beco Andreotti (Ford) triunfaram entre os carros, enquanto Bruno Sperancini e Breno Rezende foram vitoriosos na categoria UTVs.

Idário Araújo/Vipcomm Idário Araújo/Vipcomm

Nosso roteiro

A proposta foi acompanhar a prova por um roteiro paralelo ao oficial, sem cruzar (ou atrapalhar) a competição. Em alguns locais, porém, percorremos o mesmo trecho de deslocamento (onde não há cronômetro) dos pilotos, o que significa que não houve vida fácil. Nosso trajeto foi de 2.200 km entre Goiânia e Palmas. As motos enfrentaram terra batida, piçarra, rios e muita areia no deserto do Jalapão. Alguns dos caminhos mais difíceis, acredita, eram nada menos do que rodovias estaduais (tais quais BA-225 e TO-247) sem asfalto ou sinalização, embora repletas de areiões traiçoeiros que, em alguns momentos, nos levaram ao chão.

Como é a XRE 300

Embora visualmente tenha mudado pouco na linha 2016, a XRE 300 recebeu alterações para se adequar à segunda fase do Promot 4 (o programa de eficiência energética do setor). Isso acarretou redução de 26,1 para 25,4 cv (gasolina) cv na potência gerada pelo propulsor monocilíndrico flex.

Também houve tentativa de acabar com a má fama em relação a vazamentos de óleo, trincas no cabeçote e problemas na corrente de comando, entre outras queixas de consumidores. Cabeçote e diagrama da válvulas foram redesenhados. Há nova aleta para redirecionar ar para o motor e melhorar a refrigeração.

Outra novidade foi a tampa de combustível articulada, aumentando da capacidade do tanque de 13,6 para 13,8 litros. Comandos nos punhos foram modernizados (até que enfim!), e o painel digital é do tipo blackout, como as telas dos smartphones.

Reputação em jogo

A aventura, portanto, serviu para ver como a nova XRE 300 se sairia andando por 2.200 km, ininterruptamente, em condições extremas de uso -- trilhas cheias de obstáculos e temperatura ambiente acima de 30ºC. Aqui é preciso dizer: a moto terminou a prova sem trincos, vazamentos ou qualquer sinalização de falha.

Outra diferença positiva é que em quinta marcha o motor parece estar mais cheio em médios giros, dispensando tantas reduções. 

O único porém foi o alto consumo de 23 km/l registrado nos trechos mais complicados (sempre com gasolina, porque o etanol nem sempre está disponível em regiões mais remotas). Na estrada asfaltada a autonomia melhorou para cerca de 28 km/l.

Ciclística

Suspensões têm curso longo -- 24,5 cm no garfo telecópico dianteiro e 22,5 cm na balança monoamortecida de alumínio traseira -- e são projetadas para uso misto. Encaram bem a buraqueira, mas não servem para off-road profissional. Ou seja, o trajeto foi sofrido.

Freios possuem auxílio do C-ABS, que combina frenagem combinada e ABS (antitravamento). A Honda jura que ele foi projetado para o uso no fora-de-estrada, mas na prática a configuração atrapalhou: simplesmente não é possível utilizar o freio traseiro para corrigir trajetórias, pois o disco dianteiro é automaticamente acionado.

Moto e pneus (de uso misto) sofreram mais na areia do Jalapão. Ali sentimos muita falta de protetores de mão, para evitar trombar em troncos e galhos à beira da estrada, e protetor de motor, que evita danos em caso de queda. O guidão, posicionado um pouco baixo demais, também atrapalhou.

Na soma, o desempenho foi satisfatório. A XRE 300 não tem a potência das bigtrails, mas compensa com agilidade e boa autonomia (cerca de 300 quilômetros). Falta conforto, em função da pouca proteção aerodinâmica, o que muitos proprietários resolvem comprando o para-brisa vendido como acessório.

Única manutenção necessária foi a troca do filtro de ar e o ajuste da transmissão final. A ver se, no uso comum do dia a dia, os problemas que tanto afetaram a vida dos consumidores e a reputação da XRE 300 terão sido realmente resolvidos.

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Ficha técnica - XRE 300 2016

  • Preço

    R$ 17.750

  • Motor

    Monocilíndrico flex de 291,6 cm³; DOHC; arrefecimento a ar

  • Potência

    25,4/25,6 cv a 7.500 rpm (gasolina/etanol)

  • Torque

    2,76/2,8 kgfm a 6.000 rpm (gasolina/etanol)

  • Transmissão

    Manual de cinco marchas

  • Dimensões

    2,17 m (c) x 83,8 cm (l) x 1,81 m (a)

  • Peso

    153 kg (a seco)

  • Tanque de combustível

    13,8 litros

Vire craque no off-road

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Outras motos pequenas que aguentam off-road

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    Yamaha XTZ 250 Ténéré

    Concorrente direta da XRE 300, oferece conforto, autonomia e boas suspensões para encarar trechos de terra.

    Imagem: Doni Castilho/Infomoto
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    Honda XRE 190

    Pequena e valente, deve um pouco em potência e curso de suspensão, mas bebe pouco e chegou a Palmas com todas as peças intactas.

    Imagem: Mario Villaescusa/Infomoto
  3. 3

    Yamaha XTZ 250 Lander

    Mais leve, porém menos confortável que a Ténéré 250. É preciso atenção à autonomia, já que seu tanque tem só 11 litros.

    Imagem: Divulgação
  4. 4

    Honda NXR 160 Bros

    Também leve, tem suspensões de curso um pouco mais longa do que a XRE 190 e traz pneus de uso misto. Falta motor.

    Imagem: Divulgação
  5. 5

    Yamaha XTZ 150 Crosser

    Sofre do mesmo problema que a Bros: pouco motor. Mas é uma opção mais acessível e tão valente quanto.

    Imagem: Mario Villaescusa/Infomoto

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